Nossa Senhora da Conceição


EU PRECISO RESSUSCITAR

EU PRECISO RESSUSCITAR
 Paulo Cabral Tavares
 
Nascemos com uma certeza. Uma, não, muitas. Mas uma é indiscutível, não pode ser dissimulada nem jogada embaixo do tapete: morreremos um dia. Mas ao longo da vida nos esquecemos disto. Vivemos como se nunca fôssemos morrer e além de não nos prevenirmos para uma vida mais longa e saudável, quase nunca nos preparamos para o desfecho de nossa história.
Daí a surpresa: sabe quem morreu?! E vem a resposta: fulano de tal. E a nossa admiração: é mesmo?!!! Tão moderno, ninguém diria.
É assim mesmo, de repente, sem véspera, na maioria das vezes ela chega e nos leva. Sem conserto, sem remédio, sem retorno. Para a morte não tem remédio que cure, diz um velho ditado.
Eu estava às vésperas de fazer a cirurgia de catarata do segundo olho, e como nos momentos difíceis a gente se lembra sempre de pedir a ajuda de Deus, resolvi ir à igreja no domingo que antecedia a operação. E o evangelho do dia era o relato de Jesus curando um cego de nascença, com cuspe e terra. Coincidência? Recado? Esperança? Aí a resposta vem de acordo com a sua fé e a minha. Eu me emocionei muito.
No domingo subsequente vem a história da ressurreição de Lázaro. Difícil de acreditar. Somente aos olhos da fé a gente pode admitir a ressurreição de um morto. Pior ainda, com quatro dias de sepultado. A morte é, sem dúvida, um salto no escuro. Ninguém sabe direitinho o que vem depois dela. Vinicius, o poetinha, diz em um de seus poemas que uma segunda vida após a morte, somente é acreditável, com certidão passada no céu, assinada por Deus.
Mas o padre em sua pregação, fala de outra ressurreição. A de nós mesmos que às vezes estamos sepultados para a fé. Para a nossa vida espiritual. Para acreditarmos realmente em princípios que nós professamos, muitas vezes somente da boca para fora. No meu escritório, eu vejo muito cristão que quando o assunto se refere a dinheiro, parece que nunca ouviu falar em Jesus Cristo.
Com as dificuldades do dia a dia, a gente vai sobrevivendo e esquece dos valores espirituais. Dos compromissos que um dia assumimos em nome de uma fé difícil de cumprir em seus mínimos detalhes. De oferecer o outro lado da face, para uma segunda bofetada. De perdoar, de tolerar, de entender as razões do outro. Da caridade, do amor acima de tudo.
Eu lhes confesso, preciso ressuscitar. Não sei há quantos dias estou morto espiritualmente, para a minha fé, mas acredito que há mais de quatro dias. Portanto, uma ressurreição mais difícil. Mas sempre possível.
Eu quero, desta forma, esquecer as minhas discussões internas, dentro de minha cabeça, fazer a paz comigo mesmo e buscar as convicções do principio. 
Ubatã, 10 de abril de 2014.